Situação contradítória e encontradiça de nossa sociedade. Na aula de encerramento de nossa Fundação IDEPAC, o Presidente da Fundação explanava aos alunos a aula final no auditório, expondo a importância de continuar a buscar sempre o melhor, procurando fazer as coisas de maneira diferente para obter resultados diferentes.
Ao final da palestra todos os alunos foram acarinhados com a distribuição de um panetone a cada um. Os professores receberam igualmente um presente: uma cesta de Natal.
Eu estava ali. Reflexivo observei a todos, andei entre os alunos e professores. Conversei com muitos deles. Bati várias fotos e estava feliz pelo término de mais uma etapa, mais uma tarefa cumprida.
No calor das despedidas e desejos de votos para as festas natalinas entre professores e alunos, fui procurado por uma aluna, olhos marejados:
- Professor, posso falar com você?
- Claro. Diga!
- Por causa de pouco mais de um ponto não passei na sua matéria. E foi só na sua matéria...
Olhei o boletim da aluna em questão. Li o seu nome e na hora rememorei tudo o que eu já havia conversado com a professora da sala...
- Bem, você não atingiu a média proposta no início do ano, fez a recuperação e ainda assim não conseguiu obter a pontuação mínima...
Esclareço aos leitores que não fui o professor da aluna em tela, porém, sendo o coordenador da disciplina, ela veio à minha procura como se, ao conseguir falar comigo que supostamente estaria acima de sua professora pudesse resolver o problema que lhe afligia...
Felizmente, procuro ser diligente para casos mais delicados e já havia sido alertado quanto a aluna e já havia debatido a sua situação com a professora responsável.
Informado pela docente do descaso da garota com a disciplina, inobstante toda a ajuda proposta, além de aulas de recuperação a que nenhum aluno da sala compareceu, não hesitei em reafirmar a decisão da professora, não "aliviando" a situação para a discente.
Cabe dizer que a profissional responsável pela matéria é de minha inteira confiança, já havendo demonstrado outras vezes provas de competência e discernimento para casos mais espinhosos.
Pois bem, o diálogo seguiu pouco mais com a aluna informando que o diploma era muito importante para a sua mãe, etc. Ofereci o seu retorno para cursar novamente a matéria no ano seguinte ao que foi refutado de pronto. Perguntada sobre o motivo pelo qual não poderia cursar novamente, esquivou-se.
Sei que muitos profissionais do magistério diante de delicada questão dariam o ponto necessário e livrar-se-iam de um "problema" ou de "choramingos" de alunos desesperados.
Contudo, penso que lá estamos para formar profissionais. E afirmo sempre aos alunos que o mercado é impiedoso. Não perdoa. Eles devem ser os melhores. É claro que são jovens e escapadelas aos deveres são próprios da juventude. No entanto, por serem de baixa renda, a sociedade exigirá ainda mais deles. Devem mostrar que estão prontos e chegaram para vencer.
Expliquei pra ela que não era o fim do mundo. Disse-lhe ainda que um dia ela agradeceria tal gesto, apesar de toda a sua raiva momentânea.
Contrariada, ela aceitou os argumentos e viu que dessa vez, seu traquejo e jeito expansivo não a safariam do resultado desfavorável. Calou-se, despediu-se e seguiu seu rumo.
Nos dias de hoje muitos acreditam no poder do "jeitinho". Como se transformar um 4,75 em 6,00 fossem fazer toda a diferença. Penso que manter o 4,75 por ela atingido a tornará uma pessoa melhor. Torço para que ela enxergue que nem tudo ou nem todos se comovem ou se curvam diante de algumas lágrimas ou de um resultado contrário às expectativas, e que se deve unicamente por falta de empenho...
Chance? Todos os alunos tiveram. Alguns aproveitaram, outros desperdiçaram. Houve ainda aqueles que desdenharam da dita e creram que uma boa conversa pudesse resolver todos os males. Ledo engano.
Eu, assim como a professora da matéria estivemos de pleno acordo. Acreditamos que adversidades nessa idade ajudam a moldar o caráter. Ademais não poderíamos ir contra o que é pregado em sala: ética, moral.
Se queremos dias melhores para nossa sociedade, precisamos nos tornar a transformação que queremos para o mundo.
Endurecer sim, porém sem perder a ternura tão necessária ao ofício de formar jovens, cidadãos, profissionais...
PS: O autor do texto não gozou até aqui de "facilidades" obtidas de maneira estranha ao que se exige em cada prova da vida...
2 comentários:
são pessoas assim que admiro. Que pensam no nosso melhor. Meu exemplo de vida, de carreira, é um professor meu, de biologia, William, inconparável!
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