domingo, julho 09, 2006

Minha amada São Paulo

Acompanhado apenas do samba de Adoniran Barbosa e de uma cerveja engarrafada no interior paulista, ponho-me a escrever...
Remeto-me aos tempos antigos, lembro das ruas de minha cidade em paralelepípedos, os homens elegantes com seus chapéus e ternos bem alinhados, as mulheres em seus longos vestidos e as crianças a esboçar uma maturidade precoce, amarradas em suas desconfortáveis roupas, a imitar as roupas adultas, porém em tamanho reduzido.
Lembro-me das conversas de botequim; os homens a discutir política e negócios, os horizontes da vida nova, o comércio a florescer, as faculdades a surgir com seus acadêmicos e os novos doutores. As mulheres entretidas em seus afazeres, os cuidados e o desvelo com a família, o pilar de sustentação de toda a sociedade.
Ah, os cafés tomados no centro da cidade com o som dos bondes a atravessá-la ao fundo. A névoa da manhã a anunciar um novo e agitado dia naquela que seria mais tarde a maior metrópole do país, a outrora Vila de Piratininga, minha amada São Paulo.
Recordo-me da Rua XV de Novembro, da sapataria da Rua do Comércio, da Praça Antônio Prado, da Igreja de Santo Antônio e da Rua Direita, o Pátio do Colégio a marcar o começo de minha cidade. O burburinho, a música vinda da agitação, dos passos rápidos e do frenesi do ir e vir de cidadãos paulistanos, cariocas, mineiros, nordestinos e imigrantes a desembarcar em nosso solo. Solo gentil e hospitaleiro que a todos acolheu como uma mãe devota. Palco de lutas, de orgulho, sede de conhecimento, vocação inata para locomotiva do país.
Artistas a executar seu belíssimo trabalho trazendo-nos alegrias, lembrando-nos de nossos sonhos, fantasias. Os músicos a transportar-nos para outra dimensão com seus acordes harmoniosos, a contar nossa história.
A aristocracia a se preocupar com os novos rumos do país e o povo simples a executar suas tarefas com perfeição e amor. Todos eles construíram essa terra, formaram essa gente heterogênea, de muitos sotaques e feições, e em comum, apenas São Paulo: uma selva de concreto, fria apenas em suas inúmeras construções.
A história recente nos conta a semana da Arte Moderna de 1922, a Revolução Constitucionalista de 1932, a resistência ao golpe militar dos acadêmicos em 1964... tanta gente, tantas histórias, idealismos, amores obstinados.
Minha mente viaja em sua história recente São Paulo. Sou filho de tua terra! Aqui nasci, me criei e me formei.
Não vivi nessa época que para mim foi dourada... Sinto saudades de algo que não vi, não vivi, mas sinto como se lá estivesse...
Hoje lamento suas ruas sujas, seu patrimônio maltratado, suas novas paisagens entrecortadas por exagerados anúncios, propagandas, poluição visual para todos os lados.
Sua gente simples continua a lutar do jeito que dá, tentando ganhar a vida de algum modo. Multiplicou-se exponencialmente com o passar do tempo...
A aristocracia continua a pensar, pensar... Alguns poucos ousam e brilham com suas idéias que ajudam a minimizar os efeitos nefastos da nova ordem que impera nos dias atuais. Crescemos em progressão geométrica em conhecimentos diversos, porém, ainda engatinhamos moralmente, somos em grande parte mesquinhos, individualistas e queremos saber apenas do nosso quinhão.
És para mim São Paulo um grande tesouro! Sem bairrismos, pois amo todos os confins de meu querido país, mas, apesar de todas as suas contradições, defeitos e mazelas; amo-te minha terra, e carrego você em meu coração!

quarta-feira, julho 05, 2006

Ao meu alcance

Fui lembrado ontem por extraordinária pessoa de uma idéia que já era quase esquecida por mim: nem sempre a solução dos problemas encontra-se em nossas mãos.
Disse-me ainda que, por mais que a solução não esteja conosco, devemos fazer a nossa parte, dar a nossa colaboração, desejar profundamente o acontecimento esperado, pois se existir alguma possibilidade, nosso gesto pode fazer toda a diferença no final.
Quantas vezes desistimos diante de obstáculos que parecem intransponíveis? Quantas horas não foram perdidas a lamentarmos as dificuldades?
Por graça única de Deus, sempre fui obstinado; até mesmo um pouco teimoso em tudo que eu acreditava e eu me esforçava até a última gota. Às vezes mesmo, negava todas as evidências que se apresentavam diante dos meus olhos de que o resultado seria contrário por mais que eu tentasse, mas não desistia enquanto não estivesse plenamente convencido. Custa um pouco. Dói sim. É uma dor na alma, que parece ferir mais que dores físicas. Porém, com o passar do tempo ficamos mais leves e passamos a aceitar que algumas coisas simplesmente não devem ser como queremos. Dêem a isso o nome que quiserem: destino, carma, falta de sorte, os rótulos não importam.
Agora, inegável é você poder olhar para aquele projeto, sonho, fantasia, desejo, vontade que não se realizou e dizer para si mesmo: “tudo fiz para que ele se realizasse”, “tudo o que estava ao meu alcance”. O alívio é instantâneo, pois a “conta” ou culpa de não ter ocorrido o desejado é imediatamente transferida sabe-se lá pra quem, o que também não importa. Mas, quanto a mim, tudo fiz, tudo tentei, assim, estou resolvido comigo mesmo.
Difícil é olhar para trás e perceber que se poderia ter tentado um pouco mais, que outro caminho poderia ser adotado, que se poderia ser mais diligente, que isso, que aquilo. Olhar e saber que outras coisas poderiam ter sido feitas e que à época não foram feitas por preguiça, orgulho, vaidade ou qualquer um desses sentimentos odiosos e que não deviam fazer parte da humanidade...
Contudo, fazer o que está ao alcance é saber que se fez tudo dentro do nosso universo de possibilidades, é tornar as hipóteses factíveis. Não podemos simplesmente lamentar a ausência de super poderes para chegar e “resolver a parada” sozinhos. Isso apenas trará angústia e frustração. Cada um deve fazer aquilo que está ao seu alcance.
Quando fazemos tudo o que está ao nosso alcance, tornamo-nos melhores, ficamos resolvidos e simplesmente encerramos aquele assunto.
Pare, olhe para aquele seu projeto, sonho, desejo, vontade e pergunte para si mesmo: “Fiz tudo o que estava ao meu alcance?”. Se a resposta for negativa e ainda houver tempo, faça o que não foi feito. Se não der mais, não dê importância, passe a partir de agora a lutar por seus sonhos, fazendo a sua parte e tudo o que estiver ao seu alcance. Se o seu desejo for lícito, e, sobretudo, não significar a tristeza de outro, o universo com a sua mágica inesgotável e em constante movimento pode dar uma forcinha para que ele se realize.

Ivanildo Monteiro.
05/07/06