sábado, dezembro 27, 2008

quinta-feira, dezembro 18, 2008

"Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás"

Situação contradítória e encontradiça de nossa sociedade. Na aula de encerramento de nossa Fundação IDEPAC, o Presidente da Fundação explanava aos alunos a aula final no auditório, expondo a importância de continuar a buscar sempre o melhor, procurando fazer as coisas de maneira diferente para obter resultados diferentes.
Ao final da palestra todos os alunos foram acarinhados com a distribuição de um panetone a cada um. Os professores receberam igualmente um presente: uma cesta de Natal.
Eu estava ali. Reflexivo observei a todos, andei entre os alunos e professores. Conversei com muitos deles. Bati várias fotos e estava feliz pelo término de mais uma etapa, mais uma tarefa cumprida.
No calor das despedidas e desejos de votos para as festas natalinas entre professores e alunos, fui procurado por uma aluna, olhos marejados:
- Professor, posso falar com você?
- Claro. Diga!
- Por causa de pouco mais de um ponto não passei na sua matéria. E foi só na sua matéria...
Olhei o boletim da aluna em questão. Li o seu nome e na hora rememorei tudo o que eu já havia conversado com a professora da sala...
- Bem, você não atingiu a média proposta no início do ano, fez a recuperação e ainda assim não conseguiu obter a pontuação mínima...
Esclareço aos leitores que não fui o professor da aluna em tela, porém, sendo o coordenador da disciplina, ela veio à minha procura como se, ao conseguir falar comigo que supostamente estaria acima de sua professora pudesse resolver o problema que lhe afligia...
Felizmente, procuro ser diligente para casos mais delicados e já havia sido alertado quanto a aluna e já havia debatido a sua situação com a professora responsável.
Informado pela docente do descaso da garota com a disciplina, inobstante toda a ajuda proposta, além de aulas de recuperação a que nenhum aluno da sala compareceu, não hesitei em reafirmar a decisão da professora, não "aliviando" a situação para a discente.
Cabe dizer que a profissional responsável pela matéria é de minha inteira confiança, já havendo demonstrado outras vezes provas de competência e discernimento para casos mais espinhosos.
Pois bem, o diálogo seguiu pouco mais com a aluna informando que o diploma era muito importante para a sua mãe, etc. Ofereci o seu retorno para cursar novamente a matéria no ano seguinte ao que foi refutado de pronto. Perguntada sobre o motivo pelo qual não poderia cursar novamente, esquivou-se.
Sei que muitos profissionais do magistério diante de delicada questão dariam o ponto necessário e livrar-se-iam de um "problema" ou de "choramingos" de alunos desesperados.
Contudo, penso que lá estamos para formar profissionais. E afirmo sempre aos alunos que o mercado é impiedoso. Não perdoa. Eles devem ser os melhores. É claro que são jovens e escapadelas aos deveres são próprios da juventude. No entanto, por serem de baixa renda, a sociedade exigirá ainda mais deles. Devem mostrar que estão prontos e chegaram para vencer.
Expliquei pra ela que não era o fim do mundo. Disse-lhe ainda que um dia ela agradeceria tal gesto, apesar de toda a sua raiva momentânea.
Contrariada, ela aceitou os argumentos e viu que dessa vez, seu traquejo e jeito expansivo não a safariam do resultado desfavorável. Calou-se, despediu-se e seguiu seu rumo.
Nos dias de hoje muitos acreditam no poder do "jeitinho". Como se transformar um 4,75 em 6,00 fossem fazer toda a diferença. Penso que manter o 4,75 por ela atingido a tornará uma pessoa melhor. Torço para que ela enxergue que nem tudo ou nem todos se comovem ou se curvam diante de algumas lágrimas ou de um resultado contrário às expectativas, e que se deve unicamente por falta de empenho...
Chance? Todos os alunos tiveram. Alguns aproveitaram, outros desperdiçaram. Houve ainda aqueles que desdenharam da dita e creram que uma boa conversa pudesse resolver todos os males. Ledo engano.
Eu, assim como a professora da matéria estivemos de pleno acordo. Acreditamos que adversidades nessa idade ajudam a moldar o caráter. Ademais não poderíamos ir contra o que é pregado em sala: ética, moral.
Se queremos dias melhores para nossa sociedade, precisamos nos tornar a transformação que queremos para o mundo.
Endurecer sim, porém sem perder a ternura tão necessária ao ofício de formar jovens, cidadãos, profissionais...
PS: O autor do texto não gozou até aqui de "facilidades" obtidas de maneira estranha ao que se exige em cada prova da vida...

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Conhecendo as pessoas (e a si mesmo)

Conhecer pessoas é definitivamente um dos meus prazeres prediletos!
Como gosto de ter a oportunidade de conversar, perceber gostos, preferências, inclinações, jeitos e histórias de cada um!
Não me refiro aqui àquelas situações que nos deparamos todos os dias quando saímos de casa e vestimos a roupa do nosso personagem; aquele verniz social que permite a convivência com outras pessoas em nossos trabalhos, escolas, rodas sociais enfim.
Faço sim alusão àqueles momentos em que nos deparamos com a essência de cada um; quando o íntimo fica à mostra revelando a personalidade enfim. É claro que às vezes descobrimos coisas que talvez preferíssemos não saber, no entanto, como é gratificante descobrir “coisas legais” nas pessoas! Nesse instante, acredito que de alguma maneira sentimo-nos acariciados pelo destino por termos a oportunidade de compartilhar um ou mais instantes, momentos, com pessoas tão especiais. Tentando traduzir o sentimento em palavras (tarefa árdua...), acho que é mais ou menos assim que me sinto quando isso acontece...
Tal sensação torna-se ainda mais “saborosa” quando se percebe “tais coisas” em pessoas que você supostamente já conhecia. Ultrapassa-se o “verniz social” e chega-se à sua essência...
Tive a felicidade nesse fim de semana de fazer tais descobertas.
Percebi também que quanto mais conhecemos as pessoas à luz de nossos pontos de vista, mais conheceremos a nós próprios (se estivermos “abertos” e dispostos a tal). Conhecer a si mesmo é como um caminho que sempre apresenta uma nova paisagem, além de ser atitude sábia. Conhecer a essência do próximo, criar a empatia e colocar-se a seu serviço de maneira fraternal é atitude solidária, atitude de amor. Amar nos dias de hoje é uma arte. Perceber o amor em pequenos gestos, histórias, jeitos, sorrisos e atitudes é bom demais! Torna-nos mais leves e propensos ao sorriso que tanto faz bem à nossa alma e ao nosso coração.
Passando por isso, avistei mais uma paisagem no caminho do auto-conhecimento a que todos nós nos submetemos ao longo da vida e pude descobrir “coisas” maravilhosas sobre pessoas realmente especiais e esse sentimento é espetacular...
Nossos olhos enxergam aquilo que está em nossos corações...
PS: Em todos os lugares nesse texto em que estiver escrito a palavra “coisa” ou “coisas” entenda-se como sendo aqueles sentimentos intraduzíveis por palavras...
Muita luz!

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Moacyr Franco

Diante de tantas notícias ruins que nos cercam no dia-a-dia, tenho procurado alimentar a minha alma de esperança e amor, valorizando muito mais os sorrisos e alegrias cotidianos do que as desgraças e misérias que assolam nossa humanidade...
Pois bem, tive o privilégio de conhecer um sujeito pra lá de incrível, um homem com uma história de vida fantástica, que transmite alegria e distribui afeto por onde passa e que comove com suas composições e canções: Sr. Moacyr Franco.
Explico: A Fundação IDEPAC da qual faço parte como professor voluntário, através de sua direção criou uma campanha visando arrecadar aparelhos auditivos e decidiu para o lançamento da empreitada, convidar o Moacyr Franco para um show no Club Homs.
Todos que conhecem esse senhor distinto, despachado e sorridente, dispensam-no elogios, mas conhecê-lo pessoalmente e trocar algumas palavras com ele, ainda que por alguns minutos é uma experiência ímpar.
Apesar de não ser um artista de minha geração, já que conto com apenas 33 anos, cresci ouvindo suas inúmeras canções no rádio apreciadas pelos meus pais em sua própria voz ou através de intérpretes que gravavam as suas músicas.
No dia do lançamento e show em questão (26/11/08) decidi levar minha mãe e sua amiga para o show e lançamento da campanha em questão. Minha amada mãe por trabalhar num dos projetos da Secretaria de Cultura de São Paulo - "Casas de Cultura", já havia tido contato com o Moacyr durante um evento, do qual guarda carinhosamente uma foto que tiraram juntos, sendo assim, não perderia nova oportunidade.
O "homem Moacyr" surpreende pela sua simplicidade e transparência. Foi até a nossa Fundação, examinou nosso Coral formado por jovens alunos e ex-alunos, passou-lhes algumas lições rápidas de canto, além de estimulá-los ao crescimento mantendo vivo o sonho por seus ideais. Ali o vi de carne e osso, a quem cumprimentei fraternalmente.
Já no evento citado vi o "artista Moacyr". Múltiplo, cantou e encantou com sua voz e carisma. Atuou no palco e foi também espectador pedindo a participação do público em algumas de suas canções (escolhia um velhinho da platéia para dar uma "sacaneada" com a sua música "Se vira nos 50"). Desfilou entre os presentes na platéia cantando com todos que o seguiam com câmeras e celulares para conseguir uma foto sua. Escolheu uma das mais velhinhas do público, levou-a ao palco e com ela cantou e dançou. A emoção da senhora era visível. Os presentes tomados de emoção acompanhavam todos os gestos com atenção. O show foi marcado por bom humor, carisma e risos que arrancava do público com suas piadas.
Outro ponto alto para mim foi o momento em que o homem e o artista se fundiram. Moacyr relata aos presentes sua dificuldade logo após deixar o Congresso Nacional em 1987, onde cumpriu o mandato de Deputado Federal. Permanecera 17 anos afastado da mídia e não conseguia voltar aos palcos e shows.
Contou-nos que numa noite chuvosa em que fazia um "show" num circo localizado em Guarulhos - SP para 15 pessoas, viu chegar do meio da escuridão e chuva um homem alto e que fora lhe pedir um favor:
- Sr. Moacyr, posso gravar uma música sua?
- Sim, mas quem é você?
- Tenho uma dupla sertaneja.
- Certo. E que música quer gravar?
- "Seu amor ainda é tudo".
- Está bem e como chama a sua dupla?
- João Mineiro e Marciano.
Pronto. Foi-se embora, aquele homem sumindo em meio à chuva e à escuridão de onde veio. O resto é história: Aquele álbum daquela dupla ganhou inúmeros discos de ouro, vendendo a estrondosa marca de 2,5 milhões de discos vendidos.
Nesse momento, o Sr. Moacyr aproveita para passar a lição: Para que nos lembremos de que quando a noite está mais escura, mais próximo está o amanhecer! E inicia cantando a canção imortalizada na voz da dupla. A emoção estava no ar, vi homens bem sisudos e austeros em seus ternos tentando esconder em vão lágrimas que insistiam em brotar dos olhos; mulheres acompanhando junto a canção e mais jovens como eu, mesmo sem conhecer direito aquele Senhor, cantavam igualmente a música que sabiam decor.
Logo após a execução de "seu amor ainda é tudo", cantou "ainda ontem chorei de saudade", música que também fez muito sucesso na voz da dupla.
Tudo muito bonito. Como se não bastasse, ao término do show, "Moa" disse que receberia a todos para fotos, autógrafos e abraços ali mesmo no "pé do palco". E assim fez.
Incansável, atendeu a todos. Eu não podia ficar indiferente a um ser humano com idéias extraordinárias e com senso de humanidade tão apurados. Aguardei a dispersão da turba de tietes, e na minha oportunidade disse-lhe: Parabéns por ser um homem fantástico! Abracei-o, dei-lhe um beijo fraternal em seu rosto e tirei também uma foto (a ser postada aqui em breve...).
Assim é o Sr. Moacyr Franco, um homem em extinção. Que cativa pela simplicidade, humildade e maestria artística.
Que nasçam novos senhores dessa "estirpe", que não perdem o seu semelhante de vista e nem o colocam abaixo de bens tangíveis!
Moacyr Franco ao saber do intuito da campanha não cobrou cachê para o show...