Cena triste. Dolorida. Enquanto eu descia a Rua Padre Adelino rumo à Av. Salim Farah Maluf, no Tatuapé, cidade de São Paulo, ontem, por volta das 21:50 vi algo, infelizmente corriqueiro, mas que me chocou, comoveu. Enquanto eu estava confortavelmente instalado em meu carro, um modelo importado (porém, comum...), com bancos de couro, vidros fechados a me abrigar do frio e da possível violência, ouvindo boa música, aguardando o fluxo do trânsito; olhei para o lado e vi um garoto sentado no banco do ponto de ônibus. Aparentava uns 8 anos de idade, moreno, cabelos curtos, enrolados, negros. Trajava uma calça jeans, blusa de moleton e sandálias abertas. Estava absolutamente cansado. Dormia sentado sem apoio às costas, cambaleando para frente e para os lados, tentando dormir enquanto o corpo insistia em pender procurando cair. Ao seu lado, umas bolsas. Em sua mão uma cartela de balas que devia vender entre os carros quando o trânsito parava. O corpo pendia mas a cartela não desgrudava de seus dedos firmes. O corpo franzino. O frio e o cansaço a castigar...
Refleti. Lamentei. O nó surgiu em minha garganta. Eu acabara de sair da Fundação onde sou professor coordenador de uma das disciplinas lecionadas. Sou voluntário como todos os professores da instituição; e lá os alunos que têm entre 16 e 24 anos e são de baixa renda nada pagam pelo ensino. Estão lá em busca de qualificação profissional para ingressar no competitivo mercado de trabalho. Faço muito pouco, pensei. Absorvi minha parcela de culpa.
O trânsito fluiu e eu segui meu caminho. O garoto ficou lá. Sabe Deus por quanto tempo. Rumei para a solução das minhas pequenas questões, das ninharias e pequenices que me atormentam enquanto tantos lutam pela sobrevivência...
Hoje ao comentar a cena com um amigo ele me disse que existem alguns exploradores de crianças que não deixam elas entrarem no abrigo de moradores de rua enquanto não venderem todas as balas. Lamentei ainda mais.
Perdoe-me Senhor e olhai primeiro por aqueles que mais necessitam de ti!